Gilberto Rodrigues – O BID e a Sociedade Civil
Em plena era de protestos e de tentativas de criminalização de movimento sociais, um seminário reuniu uma centena de representantes da sociedade civil da América Latina e do Caribe em Salvador, Bahia, sob os auspícios do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O tema central do fórum foi: Qualidade de vida. Parcerias para um impacto positivo. O evento se deu a duas semanas da Reunião Anual de Governadores do BID, que este ano ocorre na Bahia.
O BID é uma organização internacional que financia desde projetos gigantes, como a despoluição de rios e construção de estradas, até pequenos, como capacitação de comunidades e educação de jovens. É notável como uma entidade desse porte assuma publicamente querer o apoio das organizações da sociedade civil para levar a bom termo sua missão. Quem conhece um pouco do trabalho de ONGs saberá entender essa aproximação: as ONGs tem gente muito preparada, produzem conhecimento de primeira qualidade e atuam onde nem os governos nem o BID conseguiria chegar.
Esse relacionamento entre o BID e a sociedade civil é reconhecido como uma boa prática de democracia internacional, e se sustenta nos Grupos Consultivos da Sociedade Civil (ConSocs), criados pelo BID no inicio dos anos 2000, o primeiro deles no Brasil. Os ConSocs nascem sob pressão das próprias ONGs, no rastro de problemas que o BID enfrentou com alguns projetos. A lição dos erros cometidos e a visão de alguns líderes fomentou os ConSocs, que hoje já se incorporaram na vida do BID.
Porém, o Fórum de Salvador revelou duas situações contraditórias nesse casamento entre o BID e as ONGs: por um lado, a relevância e a maturidade dos debates entre funcionários do Banco, representantes dos governos federal, estaduais e municipais e a sociedade civil; por outro, o fato de que, pela primeira vez, desde que o BID se abriu às ONGs, a Presidência do Banco decidiu impedir a participação das ONGs na reunião que se dará na Costa do Sauipe, não se sabe ao certo por que, e se atendeu algum pedido do país anfitrião. Isso gerou mal-estar entre as ONGs atuantes no BID, registrado num documento de protesto, dentro do mais alto espírito de civilidade e cidadania. Como lembrou Cesare de Florio La Rocca, um italiano cidadão do mundo que escolheu viver em Salvador, diretor do Projeto Axé, a Bahia é de todos os Santos. Só isso justificaria que a reunião das autoridades do BID não vetasse ninguém. Muito menos seus santos parceiros.
(O autor participou do Fórum de Salvador, em 13.03.2014, a convite do BID, como membro do ConSoc-Brasil)
Fuente: http://atdigital.com.br/analiseinternacional/2014/03/o-bid-e-a-sociedade-civil/