Regiane Nitsch Bressan – Fim de um período à Cuba e novo momento à América do Sul?
*Professora de Relações Internacionais da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Membro da REPRI – Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo.
A visita histórica do presidente estadunidense Barak Obama à ilha Cubana foi marcada por divergências e esperanças no mês de março de 2016.
Em relação às esperanças, o governo cubano vislumbra tanto o fim do embargo econômico e comercial que os Estados Unidos impõem à ilha desde 1961, o qual depende do Congresso dos Estados Unidos para ser revertido; assim como o reclama pela reintegração do território cubano destinado à base militar de Guantánamo, que compõe um dos principais obstáculos no processo de reaproximação dos dois países iniciado em 17 de dezembro de 2014.
Para Obama, o restabelecimento desta relação representa uma novo norte, uma mudança substantiva à uma situação que pouco colaborou aos interesses mútuos destas nações.
Em relação às divergências, as questões ligadas aos direitos humanos marcam o entendimento dispare sobre o tema. Enquanto o presidente cubano Raúl Castro afirmou defender os direitos humanos, que «direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais são indivisíveis, interdependentes e universais», indagou qual país cumpre plenamente estes direitos e afirmou não haver presos políticos em Cuba. Por sua vez, os Estados Unidos e organizações internacionais acusam expressivamente Cuba por violações destes direitos.
Atuando diplomaticamente, o presidente estadunidense defendeu que a aproximação entre as duas nações fomentará o alastramento de crenças e ideias comuns, além de rogar por emponderamento do povo cubano nos preceitos democráticos – como eleições diretas. Embora Obama tenha sido pouco contundente na defesa dos Direitos Humanos ao encontro com Castro, ao reunir-se com dissidentes do governo cubano na mesma visita, reforçou a preocupação dos EUA neste tema.
Focando na análise doméstica, a visita de Obama buscou tornar irreversível o processo de reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, mesmo se houver uma mudança severa no direcionamento governo dos Estados Unidos no próximo ano. A corrida presidencial dos EUA neste ano é composta por um candidato do partido opositor – Ted Cruz do Partido Republicano – cuja família é dissidente cubana, sendo expressamente contra as relações com Cuba. Alinhado com os candidatos de seu partido, o posicionamento de Obama é corroborado pelo apoio de maior parte da população dos Estados Unidos que é favorável ao reatamento destas relações.
Partindo para uma análise regional, este encontro reforça uma mudança estrutural importante nas relações regionais. A maior parte dos países da América Latina já defendia esta alteração no posicionamento político dos Estados Unidos em relação à Cuba, apregoada por diversos países, inclusive o Brasil, em reuniões de Cúpula de organizações regionais.
Na sequência, a visita de Obama à Argentina pode denotar interesse dos Estados Unidos em intensificar as relações econômicas mais liberalizantes com países da região, como é de interesse o recém governo de Mauricio Macri no país do Cone Sul.
Com isso, fica evidente que os Estados Unidos retomam maior presença regional em um momento de estremecimento dos governos progressistas, mudanças políticas, dificuldades econômicas em diferentes países latino-americanos, como Brasil e Venezuela, e nova aliança econômica – a Aliança do Pacífico.
Portanto, se por um lado, a presença dos Estados Unidos desta visita pode reforçar um indicativo de um novo momento para a América do Sul; por outro lado, é evidente que a visita da liderança dos Estados Unidos à Cuba comprova a estagnação de um período cuja discórdia não contribuiu ao desenvolvimento destas nações e de seus povos.